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Pico Paraná


 A conquista do Pico Paraná foi uma daquelas aventuras inesquecíveis brodinh@s, marcada pela surpreendente presença da Mata Atlântica e as surpresas do percurso. Ao longo deste post quero relatar um pouco da experiência que vivenciamos, as curiosidades e histórias que envolvem esse lugar extraordinário. Este post também tem aquele significado especial, pois quando eu chegar lá no acampamento 2 na base do cume quero fazer uma homenagem a um amigo que já não vive fisicamente, mas, continua vivo nas nossas lembranças.


Quem fez o transporte até a base na Fazenda Pico Paraná foi o grande amigo Luciano Hülse da BIKEATIVA Expedições. Eles são uma empresa que realiza atividades de aventura com muita responsabilidade e alegria a quem nós temos muita gratidão.


Base de apoio ao montanhista na fazenda.



As imagens ai são na fazenda Pico Paraná. Ali fizemos nossa inscrição para o início da escalada. A fazenda possui uma estrutura básica para partida e chegada dos montanhistas.
Esse é o percurso que vamos realizar em dois dias.

Primeiras vistas com a Barragem do Iraí ao fundo.




Já no início da caminhada, de cara uma subida bem íngreme e cansativa. Estávamos carregados com nossas mochilas e isso também dificulta a caminhada, porém, a vista é incrível!

Depois de duas horas de trilha paramos para um almoço. Pão com carne. Olha ai eu com a Dry Cool azul  manga longa da Conquista Montanhismo que eu comprei na Território da loja Centro em Curitiba. Vamos ver se ela aguenta o tranco!


Julio

Jakson

Rodolfo

Eduardo



Depois de alimentados, com cara de felizes, bora pra trilha. Pra esquerda fica o Caratuva e a direita, nosso objetivo, o Pico do Paraná... mais 6 horas de caminhada! Bora piazada!


 Quando a trilha se abre pela primeira vez é muito emocionante ver no horizonte a enorme montanha.




Grande parte da trilha parece uma cena do livro e filme, The Hobit. A vegetação é fechada e chega a dar calafrios em alguns trechos. A dificuldade fica por conta das pedras, mas, são as raízes das arvores, emaranhadas no solo que se interpõem como dificuldade máxima. Raras são as trilhas planas.

Uma pausa para um descanso... e uma foto no acampamento 1. Agora já estamos na metade do caminho. Agora começa o trecho mais perigoso, com abismos e grandes lances de escalada a unha nas escarpas.


Essa vegetação é predominante somente nesta área, muito bonita. O vento balança fazendo ondas.



Graças a Deus água!!!

Olha ai a montanha já se definindo.

Este ponto para mim foi o mais emocionante pois a montanha se manifesta com toda sua majestade. Surge assim, do nada,  encoberta pela vegetação fechada. Sair para a luz de cara para a montanha, é de chorar, não tem como não parar e ficar hipnotizado.



Momentos de tensão. Neste ponto, já na base do Pico do Paraná, o obstáculo onde muita gente desiste. É preciso vencer uns 120 metros de escalada, literalmente agarrado nas rochas e nos clipes que oferecem alguma segurança.Tem que ter sangue frio!




Realmente, essa foi de superar! O ar chega faltar por causa da adrenalina, a altura e a exaustão.Já estamos há 6 horas caminhando e esse último obstáculo, broder, de tirar o fôlego mesmo! Olha o broder Eduardo, super companheiro, não tirava o olho de mim. Aliás, o tempo todo um fica cuidando do outro intuitivamente. Eu estava levando uma mochila pesada, com os mantimentos, e bem, não que eu seja velho, mas, nessa hora...meu,  faltou fôlego! Esse vídeo ai dá uma ideia do que foi um pequeno trecho de escalada. Nessas horas que a gente valoriza o treino de escalada na Academia Via Aventura.



Será que vai chover? chuva orográfica, ou chuva de relevo, ocorre quando uma massa de ar carregada de umidade sobe ao encontrar uma elevação do relevo, como uma montanha. O ar mais quente (mais leve e, geralmente, mais úmido) é empurrado para cima. Ocorre a condensação do vapor, provocando chuva. 

Montando o acampe na Base 2.



Mas a montanha é traiçoeira também. De um instante para o outro toda aquela paz virou um caos! Fomos surpreendido por uma tempestade tropical. Caiu de uma só vez. Primeiro veio a água e depois os raios. Foram quatro horas de chuva e a cada faísca o coração parava de terror. A atividade elétrica nessa época do ano é intensa e a possibilidade de ser atingido por um raio na montanha é bem provável. Bem, a barraca ficou inundada. Depois da tempestade, quando achávamos que o pior já tinha passado, começou tudo de novo e junto com a chuva, um vento que achatava a barraca e ameaçava levantar voo. Nós seguramos nas laterais da lona por horas pra que a barraca não desabasse. O perigo era sermos levados pelo vento e despencar da montana. estávamos há três metros do abismo.Foi uma noite sem dormir, muito difícil, um pesadelo. Tremíamos encharcados com o frio congelante esperando a manhã chegar.

Tributo ao amigo Sandro Vaz de Paula

Amanheceu...


Na manhã seguinte, amanheceu um frio de rachar. Tive que colocar todas as roupas pra me aquecer. 
Depois daquela noite sem dormir por causa da tempestade, antes de descermos, prestei meu tributo a um amigo muito especial que faleceu há alguns anos atrás por causa de uma leucemia. 
Fiz uma camiseta especial em sua homenagem.

Sandro é um daqueles amigos que Deus coloca na vida da gente pra dar um sentido a algumas páginas da nossa existência. Ele era muito inspirador e um antropólogo por vocação como eu. Aliás, eu quem o incentivei a fazer o curso de ciências sociais que foi interrompido pela doença. 
Na ocasião de sua morte eu não tive como me despedir. Não pude ser o amigo que ele merecia, porque eu também estava enfrentando a fase mais difícil da minha vida.

Nunca é tarde, e sempre há tempo de reconhecer. Como antropólogos nós éramos fascinados por rituais. Os judeus têm na sua cultura uma forma muito inusitada de homenagear seus mortos. Eles levam uma pedrinha e a deixam sobre a lápide no túmulo dos seus familiares. É uma forma de lidar com a morte. É um costume que tem sua origem inspirado no túmulo de Raquel, esposa de Jacó que morreu após dar a luz a seu filho Benjamin. Ela foi sepultada a beira da estrada e cada um dos filhos de Jacó depositou uma pedra sobre o túmulo sendo a última depositada por Jacó. Hoje é uma forma ritual de "marcar lembrança" .
E com essa pausa no tempo da vida, eu agradeci a Deus por tudo que tenho a oportunidade de experimentar, de poder viver a liberdade, procurando lembrar do que é mais importante e essencial. Dediquei esse tempo para lembrar do significado da amizade, de ser aquela pessoa que enfrenta uma tempestade junto ou que vai com você onde jamais você chegaria sozinho.

E deixei essa pedra ali, nos pés da montanha para marcar que eu lembrei de um amigo que se tornou um irmão.

Vou contar mais uma coisa. O silêncio estava no nosso coração nessa manhã, por dois motivos. Primeiro era porque corremos o risco de ter morrido na montanha, atingidos por um raio ou levados pelo vento. Mas nessa oração individual, sei que cada um agradecia a Deus pela vida e por tudo que a gente tem de mais importante, a saúde, a família e os amigos. Segundo, porque o cume estava ali a menos de uma hora, mas depois da noite terrível que passamos, o mais prudente era descer e procurar recuperar as forças para voltar. Isso a gente nunca deve perder de vista, voltar integro e em segurança. A montanha é que manda.

Agora é descer a trilha: oito horas de caminhada!


 Uma última olhada pra registrar na alma a imagem da montanha. Pode ser a última vez que eu a veja. Outros caminhos se abrem na vida.



Voltar literalmente se agarrando no emaranhado de raízes, pedras e grandes árvores caídas.

É bom passar um pouco, só um pouco, de protetor para não torrar a cara. Olha a Dry Cool da Conquista intacta ai. E olha que ela enfrentou até uma trilha de bambuzal e não rasgou. Tecnologia faz muita diferença, mesmo para escaladores de fim de semana! Um conforto, pelo menos. 



E o caminho fica pra traz e vira uma história pra contar.


Aqui vai uma contribuição do registro fotográfico feito pelo Rodolfo:






















Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns! Pela conquista e pela homenagem a seu amigo, com certeza de onde ele estiver estará sempre olhando por vc. Não deixe que essa tenha sido sua última vez, volte lá no inverno e deixe outra pedra no cume, pr vc e por seu amigo. Abs.